sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pub por Pub (12)



Provavelmente, a lavagem da roupa é dos processos que menos interesse nos suscitam de entre todos aqueles com que nos deparamos ao longo dos nossos dias preenchidos.
Se este anúncio fosse verdade, esta realidade seria com certeza diferente, uma vez que um verdadeiro mundo subaquático em cada lavagem é o que a “Ariston” promete com esta sua publicidade. Ao que parece, as nossas roupas têm uma existência bem mais preenchida do que apenas acompanhar-nos no nosso dia-a-dia, servindo como base de aquecimento, protecção ou simples estética, pois, quando as colocamos na máquina, em vez de encolherem e perderem cor, embarcam sim numa viagem pelo fantástico submundo de água, detergente e rotações.
Este anúncio foi produzido para a gama Aqualtis, da Ariston, que a marca apresenta como sendo uma gama que respeita verdadeiramente o ambiente, é económica, eficiente e garante um cuidado extremo com as roupas que lá têm o “privilégio” de serem lavadas. Desta forma, esta publicidade faz sentido, misturando imagens da lavagem de roupa precisamente com imagens do ambiente que promete proteger.
No fim deste anúncio, a Ariston consegue que o processo de lavagem da roupa ganhe, mesmo que por meros momentos, uma maior atenção e deslumbramento por parte do espectador, e, mais importante, desperta mesmo alguma vontade de trocar de máquina de lavar… por uma Aqualtis, e poder assim beneficiar de todo este universo e inovação mesmo na nossa casa.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Inside Job - A explicação da Crise em versão Cinema


Realizado por Charles Ferguson e lançado em 2010, Inside Job é um filme que mostra como a crise financeira de 2008 foi resultado de um processo construído durante vários anos e cujas consequências futuras eram conhecidas. Durante o filme, são explicados a maior parte dos acontecimentos e dos esquemas que levaram aos níveis de endividamento absolutamente excessivos que as famílias americanas contraíram, e a relação dessas dívidas com os maiores bancos de investimento mundiais, relação essa que culminou na bolha do imobiliário nos EUA e na consequente falência de algumas das maiores instituições financeiras mundiais, factos que originaram uma das piores crises de que há memória.
É explicado ao espectador como foram sendo desencadeados os processos que deram origem à crise massiva que a economia mundial tem sofrido nos últimos anos. Vemos que, desde a administração Reagan nos EUA, com as suas políticas de desregulamentação e com a influência crescente dos bancos de investimento nos círculos do poder americano, nessa mesma altura (anos 80) estavam a ser dados os primeiros passos para a preparação do que se viria a revelar um cocktail absolutamente explosivo.
Com a escalada ao poder das maiores instituições financeiras americanas, e até mesmo a entrada de figuras das administrações destas mesmas instituições para cargos políticos nos EUA, os mercados tornaram-se cada vez mais desregulados, dando isso origem a esquemas progressivamente mais complexos e interligados. Chegou-se a um ponto em que a emissão de produtos financeiros tóxicos entre os bancos de investimento e as seguradoras atingiu uma interligação tal que bastaria “uma pequena rajada de vento” para fazer cair por terra todo o sistema financeiro mundial. Tudo isto causado pela ambição desmedida da banca e dos seus líderes, que auferiram nesse período (e ainda hoje) bónus astronómicos à conta do risco de todo o sistema.
Para além da explicação mais económica e financeira do problema, o filme mostra também constantemente a cara dos “culpados da crise”, relatando episódios reais e mostrando declarações dos mesmos para evidenciar a sua implicação na crise. Vemos também que a relação de simbiose que se estabeleceu entre os conselhos de administração dos grandes bancos e o poder político nos EUA foi também uma das razões para o surgimento de mercados completamente desregulados, por obra da banca de investimento e também das agências de rating, que atribuíam classificações altas a produtos visivelmente tóxicos.
Algo que choca também durante o filme é a passividade dos governos americanos em relação à situação, passividade que supostamente ainda se mantém com Barack Obama, apesar das suas declarações em contrário, sendo este governo apelidado de “outro Governo de Wall Street” durante a película. A realidade americana é a mais analisada em Inside Job, pois foi nos EUA que se iniciou a crise, e porque as decisões tomadas neste país têm impacto um pouco por todo o mundo.
No final do filme, é-nos ainda dada outra perspectiva também preocupante, a da ligação desta rede que provocou a crise com as Universidades americanas. Segundo o filme, até mesmo a ciência económica leccionada nas Universidades foi subornada pelas grandes instituições financeiras, o que dá ainda uma nova luz sobre a dimensão e imoralidade da crise.
Apesar de estes filmes apresentarem sempre uma visão algo subjectiva dos acontecimentos, e de correrem sempre o risco de serem considerados teorias da conspiração, o Inside Job demonstra uma realidade e factos demasiado verdadeiros e recentes, ficando no fim aquela pequena surpresa, e até alguma revolta por vermos que os causadores da crise mundial saíram impunes, alguns até mais fortes que nunca após terem sido salvos com o dinheiro dos contribuintes, e que continuam a ocupar as esferas do poder, deixando no fim o aviso de que os vícios que causaram a crise ainda estão bastante presentes e activos.
De todas as citações e declarações proferidas pelos entrevistados durante o filme, fica esta em destaque: “Um engenheiro a sério constrói pontes, um engenheiro financeiro constrói sonhos. E quando esses sonhos se transformam em pesadelos… os outros é que pagam.” (Andrew Sheng - Chief Adviser, China Banking Regulatory Commission).

Trailer Oficial do Filme: