domingo, 31 de julho de 2011

As marcas da nossa vida (13) - Jerónimo Martins

Corria o ano de 1792 quando um jovem, de nome Jerónimo Martins, abriu o seu negócio em pleno Chiado, na Rua Ivens. A sua tenda, como eram apelidados na altura este tipo de estabelecimentos, comercializava um pouco de tudo, desde produtos alimentares até utensílios domésticos. A loja foi ganhando a sua fama e influência no comércio lisboeta, tendo como clientes muitas das famílias da classe alta, incluindo a própria Casa Real Portuguesa, da qual recebeu o alvará de fornecedora oficial em 1797, concedido já ao filho do fundador, que dirigia a tenda desde a morte do seu pai.
Este sucesso no comércio lisboeta manteve-se, mas mesmo assim não ilibou a empresa de passar por momentos de aperto, muito por culpa dos seus donos, já na altura em que o negócio pertencia aos netos do fundador. Um dos dois netos mantinha hábitos e vícios que custavam caro e ameaçaram a estabilidade financeira da empresa. Nesta altura (1878), o outro neto, João António Martins, tomou as rédeas do negócio e, a muito custo, conseguiu endireitá-lo e direccioná-lo novamente para o caminho de prosperidade. Após a sua morte, e como não tinha descendentes, o estabelecimento ficou entregue aos funcionários mais capazes, tendência essa, de passagem da liderança de funcionário em funcionário, que se manteve.
Com a revolução económica e no consumo deixada como herança da 1ª Guerra Mundial, a Jerónimo Martins passou por novo período de crise. A salvação do estabelecimento apareceu pela mão de um grupo oriundo do Norte do país, os Grandes Armazéns Reunidos. Assim, nasceram os Estabelecimentos Jerónimo Martins & Filho. Foi nesta altura que o negócio passou para o controlo da família do actual presidente do Grupo, a Família Soares dos Santos, pois um dos dois directores dos estabelecimentos agora criados era Francisco Manuel dos Santos.

Loja Original no Chiado

Com a fusão, surgiu também a reestruturação do negócio e a recuperação do estatuto na sociedade lisboeta. Em 1930, a Jerónimo Martins foi a primeira empresa a pagar um subsídio de Natal aos seus trabalhadores e, em 1938, o negócio da empresa estendia-se à produção alimentar com a criação da FIMA, Fábrica Imperial de Margarina, Lda.
Com a expansão do grupo para a área industrial, a Jerónimo Martins cresceu e ganhou protagonismo, acrescido ainda com a criação de uma joint-venture (associação de empresas) entre o grupo português e a Unilever, gigante da distribuição anglo-holandesa, no ano de 1949. Esta associação entre as empresas foi responsável pelo aparecimento de marcas reconhecidas do retalho português, como a «Olá», que surgiu em 1959, através da compra da empresa de produção de gelados «Esquimó», ou a «Iglo», que integrou a joint-venture em 1970.
Em 1980, nasceu uma das principais insígnias do grupo, a rede de supermercados Pingo Doce. Em 1985, foi criada a Jerónimo Martins Distribuição e, ainda nesse ano, a empresa assumiu o papel de holding.
Os anos 80 foram de clara expansão para o Grupo, também com a aquisição em 1988 da empresa de cashandcarry Recheio, e, em 1989, da «Gallo», a conhecida marca de azeite. Foi ainda no ano de 1989 que se deu a entrada em Bolsa do Grupo Jerónimo Martins. Em 1990, novamente em associação, desta vez com a empresa alemã Douglas Ag, a Jerónimo Martins trouxe para Portugal a Hussel, conhecida marca chocolateira.
Na década de 90, a estratégia da empresa passou muito pela internacionalização do Grupo. A Jerónimo Martins chegou assim à Polónia em 1995, através da aquisição de um grupo de cashandcarry (Eurocash), e ao Brasil em 1997, com a aquisição de uma rede de supermercados de bairro. Ainda nesse ano, adquiriu a rede polaca de supermercados Biedronka, uma das jóias do grupo actualmente.
Já nos anos 2000, a empresa repensou a sua estrutura, alienando algumas participações e apostando mais forte nas que mais garantias ofereciam. Assim, foi notório o crescimento tanto do Pingo Doce em Portugal como da operação polaca, com o Biedronka.
A empresa lançou-se também este ano, através da sua marca «Recheio», no segmento dos supermercados de bairro em Portugal, com o lançamento da cadeia «Amanhecer».
Actualmente, a Jerónimo Martins, e em especial a família do seu Presidente do Conselho de Administração, Alexandre Soares dos Santos, são também conhecidos pelo trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos, presidida por António Barreto, que tem como principal objectivo estimular o estudo da realidade portuguesa, promovendo assim um maior conhecimento da população de várias realidades do seu país. Entre outras iniciativas, a Fundação tem publicado vários ensaios, escritos por personalidades de várias áreas, acerca da realidade de Portugal, seja na Economia, na Educação, na Saúde, entre outros temas.
Com mais de uns impressionantes 200 anos de história, a Jerónimo Martins tem crescido no mercado português e também internacional, sendo actualmente uma referência na área do retalho.

Fontes utilizadas:
Grupo Jerónimo Martins - Site Oficial
Fundação Francisco Manuel dos Santos - Site Oficial

terça-feira, 26 de julho de 2011

Gestão à vista (1) - Simon Sinek – How great leaders inspire action



Neste vídeo, parte integrante das conferências TedTalks, Simon Sinek expõe o seu modelo, que apelida de “golden circle” ou “círculo dourado”, com o qual pretende explicar o porquê de empresas como a Apple terem mais sucesso que os seus concorrentes, embora a base dos seus produtos, a tecnologia e os recursos disponíveis sejam iguais para todos os que competem nos seus mercados.
Sinek apela então à componente inspiracional da liderança, demonstrando, segundo o seu modelo, que apenas uma diferença no discurso e na visão da empresa pode explicar estas diferenças, algumas vezes gritantes, entre marcas.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Leituras (6) - StoryTelling, de Gabriel García de Oro


Gabriel García de Oro nasceu na cidade de Barcelona, decorria o ano de 1976. Tendo feito a sua formação académica em Filosofia, dedicou a sua carreira à vida empresarial, mais precisamente como criativo na OgilvyOne.
Neste seu livro, StoryTelling – A Magia das Palavras (Lisboa: GestãoPlus Edições / Bertrand, 2011), o autor fala-nos acerca de algumas das dificuldades que actualmente as empresas atravessam, ajudando o leitor a identificá-las e aconselhando-o sobre muitas delas, mas de uma forma curiosa e que acaba por se revelar bastante útil, contando-nos uma história. Não uma história densa e que dure várias páginas, pois a maior parte delas são na verdade anedotas, fábulas e pequenos contos, que demoram pouco a ler.
O que é verdadeiramente interessante e que nos obriga quase que involuntariamente a memorizar a história contada é o comentário feito pelo autor no fim de cada uma. Este comentário, mais do que nos transmitir a moral da história, procura relacioná-la com a vida empresarial, seja em termos de comportamento em grupo ou individual. E é nestas conclusões, também elas curtas mas ricas, que identificamos várias situações pertencentes ao quotidiano de cada trabalhador, de cada líder, de cada gestor.
Após a leitura do conto e do comentário, é fácil identificá-las no nosso próprio dia-a-dia e somos também levados a reflectir um pouco sobre elas, como nos afectam e como podemos mudá-las, levando muitas vezes a um compromisso pessoal de mudança (compromisso esse que muitas vezes acaba por ser esquecido logo ao virar de página, ficando no entanto o esforço).
Para além da reflexão e tentativa de melhoramento pessoal, este livro e estes contos podem também tornar-nos bons contadores de histórias, e, consequentemente, bons professores para este tipo de morais e conselhos. É-nos explicado no prefácio do livro que este tipo de metáforas e combinações de ideias coloca em acção o hemisfério direito do nosso cérebro, que nos torna mais completos, intuitivos e criativos, servindo também como uma maneira mais rápida para atingir as nossas emoções.
Desta forma, para este tipo de lições, uma história é mais completa, criativa e memorizável que um conjunto de números ou estatísticas, daí advindo a importância do Storytelling no contexto empresarial.
Esta importância fica patente na frase que introduz o livro, da autoria do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen: “Os contos servem para adormecer as crianças e despertar os adultos”.
Os contos são cerca de 50 e procuram focar todo um conjunto de vertentes da vida empresarial, como Gestão do Tempo, Gestão do Poder, Liderança, Estratégia, entre muitas outras.
Assim, após a leitura deste livro. ficamos provavelmente mais aptos para despertar os adultos. Ficamos, pelo menos, de certeza com um espólio de contos para adormecer os filhos ou intervir com um certo estilo numa reunião ou entrevista, contando uma história e transmitindo a sua moral.

domingo, 17 de julho de 2011

As marcas da nossa vida (12) - Levi Strauss & Co.


Levi Strauss nasceu na Baviera no ano de 1829. Aos 18 anos mudou-se, com o resto da sua família para a cidade de Nova Iorque, onde começou a trabalhar num negócio de tecidos com dois dos seus irmãos. Em 1853, Levi Strauss obteve a cidadania americana e, ainda nesse ano, devido à corrida ao ouro da Califórnia, deslocou-se para a Costa Oeste dos EUA, mais precisamente para São Francisco, onde estabeleceu o seu próprio negócio. Importava roupa, roupa interior e vários acessórios e depois revendia-os às pequenas lojas que começavam a aparecer no estado, devido ao desenvolvimento que a Califórnia estava a sofrer. Pouco tempo depois, Levi era já uma figura conhecida na cidade, não só pelo seu negócio, mas também pelas suas obras de caridade, atitude que passou para a empresa que já na altura tinha o seu nome, Levi Strauss & Co., mas que ainda não comercializava o seu produto mais famoso, os jeans.
Corria o ano de 1872 quando um dos seus clientes, Jacob Davis, lhe escreveu a propor uma parceria na obtenção de patente e comercialização de um novo método que criara. Para tornar as calças que comercializava mais resistentes para os mineiros que procuravam ouro nessa região dos EUA, ele colocava rebites metálicos em certos pontos de junção, como nos bolsos. Desta forma, as calças duravam mais tempo, o que era bastante apreciado pelos clientes.
A ideia agradou a Levi Strauss e, no ano seguinte, após a obtenção da patente, a empresa começa a comercializar o produto que a tornou famosa, as calças de ganga, que tinham já os rebites incorporados, que na altura foram uma revolução. Estas calças, actualmente denominadas jeans (na altura, eram chamadas waist-overalls) eram do modelo XX, até que em 1890 foram denominadas 501®, devido ao número dos lotes, modelo que ainda hoje é o principal da marca.
Em 1902, com 73 anos, Levi Strauss morre, tendo a empresa sido herdada pelos seus sobrinhos. O início do século XX foi atribulado para a marca, não só pela morte do fundador, mas também porque, em 1906, um violento terramoto, seguido de grandes incêndios, causou grandes danos na cidade de São Francisco, tendo sido destruídas as duas fábricas da marca, bem como a sua sede e praticamente todos os registos até à data.

Numa decisão pautada pela ética, que ainda hoje é considerada uma das imagens de marca da Levi’s, a empresa concedeu, após a catástrofe, crédito aos seus clientes, para que estes se pudessem recompor e pagar apenas depois. A empresa manteve também os salários de todos os seus empregados, mesmo sem produção, até que estes voltaram a trabalhar nas novas instalações, construídas pouco depois do terramoto.
Em 1912, já recuperada, a empresa lança os Koveralls, uma linha de produtos para criança, que foram os primeiros produtos Levi’s comercializados em todos os EUA, uma vez que, nessa altura, as famosas calças de ganga ainda se mantinham à venda exclusivamente na zona da Costa Oeste.
A Levi’s, a par da sua ética e política de beneficência, é também conhecida pela sua gestão de recursos humanos. Esta característica nasceu também nesta altura, quando, em 1926, foi uma das primeiras empresas a oferecer bónus aos seus colaboradores. Dois anos depois, é registada a marca Levi’s ®, pois assim começaram a ser denominadas pelos seus clientes, em substituição do nome original Levi Strauss.
Com a Grande Depressão, a Levi’s não foi excepção e passou por períodos difíceis, mas, mesmo assim, inovou, mantendo todos os empregados. Para isto, instituiu que apenas trabalhariam três dias por semana e, em alguns casos, o seu trabalho era colocar de novo os ladrilhos do chão da fábrica, apenas para lhes dar trabalho e os manter com a empresa.
A Depressão acabou por passar e, em 1934, a marca lança as Lady Levi’s, as primeiras jeans femininas.
Durante a 2ª Guerra Mundial, era normal os soldados americanos aparecerem em imagens a usar calças e casacos Levi’s, garantindo assim uma primeira fase de exposição mundial à marca.
Nos anos 50, e com a expansão para o Sul dos EUA, a Levi’s inova novamente na sua política de recursos humanos, pois, apesar de toda a tensão racial que se vivia naquele país nessa altura do século, a empresa assegurava oportunidades de trabalho iguais para afro-americanos. As políticas de beneficência e o envolvimento com as comunidades onde estavam instaladas as unidades da marca eram já uma regra que vinha desde o seu fundador, pelo que em 1952 a empresa cria a Levi Strauss Foundation, conhecido como o braço solidário da Levi’s, para coordenar todas essas acções de caridade.
A Levi’s começava a ser já conhecida como um marco de qualidade e da cultura americana, e, assim, começava a contar com presenças mais assíduas em eventos fora dos EUA. Desta forma, a marca começou a exportar os seus primeiros produtos em 1959, ainda só para a Europa.


Com o crescimento das vendas em todos os locais onde estava já presente, a Levi’s, para continuar o seu ímpeto de crescimento, decidiu abrir-se a capitais externos, em 1971, vendendo acções da empresa. A abertura das empresas a investidores tem lados positivos e negativos, e no caso da Levi’s, a pressão do exterior não foi benéfica. Apesar de continuar a ter vendas bastante grandes e de ter tido bons momentos, como ter-se tornado a marca de vestuário oficial da equipa olímpica americana, e de ter aberto a sua primeira loja fora dos EUA, mais precisamente em Espanha, em 1983, a empresa terminou a sua aventura bolsista em 1985, quando voltou inteiramente para as mãos da família do fundador. Esta aquisição foi consumada por Robert Haas, bisneto do fundador, que se tinha tornado CEO da empresa em 1984. De resto, desde a morte de Levi Strauss, e mesmo durante o período em que esteve em bolsa, a marca foi sempre gerida pela família do fundador, podendo ser assim considerada uma empresa familiar.
Sob a gestão de Haas, a Levi’s começou a recuperar das quebras de resultados que tinha vivido nos anos anteriores. Esta recuperação começou desde logo com o lançamento da linha, também de vestuário, Docker’s, que se tornou um sucesso imediato. O respeito pelos colaboradores manteve-se uma tradição da família, e, em 1987, Haas publicou uma “declaração de aspirações” que tinha como objectivo desenvolver as capacidades de liderança e de inovação de todos os empregados, e que estes fossem encorajados a demonstrá-las, transferindo algum poder para os colaboradores e incentivando-os a abraçar a mudança e atingir a excelência. Em 1992, a Levi’s tornou-se a primeira empresa a oferecer apoio médico total aos companheiros (mesmo que não casados) dos seus colaboradores.
Nos anos que se seguiram, a empresa foi acumulando prémios e menções, não apenas pelo seu reconhecimento como uma das maiores marcas de vestuário mundiais, mas também pelas suas políticas de caridade, recursos humanos e pela ética presente em todas as suas decisões.
Em 2003, a Levi Strauss & Co celebrou o seu 150º aniversário e também o 130º aniversário do aparecimento das suas famosas jeans.
Com toda a sua história, a Levi’s transmite também algumas lições importantes para o mundo empresarial. Atingir uma posição de liderança e admiração mantendo uma política de recursos humanos e de respeito pelos seus colaboradores inovadora e generosa, tomando decisões constantemente aclamadas pela sua ética é algo de extraordinário. Tudo isto salta ainda mais à vista num contexto como o actual, em que as empresas são cada vez mais criticadas, precisamente pelas suas falhas nas questões acima referidas. Vemos também que apenas a manutenção da empresa como algo familiar pode possibilitar uma tal passagem de valores desde o seu fundador até os dias de hoje, ilustrando as vantagens que uma exposição menor aos riscos e pressões do mercado podem trazer.

Fontes utilizadas:
Levi Strauss & Co. - Site Oficial
Dearlove, Denis; Crainer, Stuart; As 50 maiores marcas, Abril/Controljornal, 1999

Advertising Archives

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Leituras (5) - Economia, Moral e Política, de Vítor Bento



No seguimento da colecção de estudos acerca da realidade portuguesa organizados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, foi publicado este ano o livro “Economia, Moral e Política”, da autoria de Vítor Bento, economista e mestre em Filosofia.
O autor faz uma análise e uma explicação dos ciclos económicos, mas não apenas de um ponto de vista teórico, fazendo também uma introdução à acção política e à moralidade dos intervenientes na economia mundial, relacionando assim as três variáveis, culminando numa obra que retrata bem os problemas actuais da economia e que dá uma outra visão bastante importante para a sua compreensão, analisando em que medida estes mesmos problemas são ou não criados pela mudança nos padrões morais da sociedade.
O livro está dividido em quatro capítulos. Um primeiro, intitulado “Economia e Moral”, onde começa a ser feita a relação entre as três variáveis presentes no título, análise introdutória que é terminada no segundo capítulo, “Economia, Ciência e Política”. O terceiro capítulo, “Financiamento e Eficiência Económica”, apresenta-nos o sistema financeiro mundial, elucidando-nos acerca de algumas das suas regras e produtos, mas também, e principalmente, quais os seus problemas e perigos. No final do livro, juntam-se os três capítulos anteriores numa análise à actual crise mundial, onde o autor nos deixa a ideia de que a actual crise é não só económica e financeira, mas também moral e que as sociedades foram empobrecendo os seus valores morais, deixando a porta aberta para que este tipo de situações (crises) se suceda.
Nesta última parte, a Economia, a Moral e a Política são verdadeiramente integradas e colocadas sobre a actual crise, mostrando como tudo se começou a desenrolar e ainda não terminou. Vítor Bento aponta a ganância, a valorização da riqueza material acima de tudo, a pressão constante por melhores resultados contabilísticos e sobretudo a perda de valores morais e de ética por parte de grande parte da população, em especial dos dirigentes das empresas, como uma das pedras basilares desta crise.
A verdade é infelizmente essa e somos confrontados com ela todos os dias, sucedendo-se os casos de corrupção e de outros crimes, tudo em prol muitas vezes do resultado a curto prazo que fique bem nos relatórios e contas, sacrificando muitas vezes a sustentabilidade da empresa e/ou das próprias nações.
Toda essa análise alastra-se também, quando necessário, à actuação dos Estados, onde também reinam os problemas acima referidos, acrescendo o endividamento, as más políticas, entre outros, que colocam em risco a sustentabilidade de países inteiros.
Este livro está escrito de uma maneira bastante compreensível e fácil de ler, onde os termos demasiado específicos não abundam, e, mesmo quando presentes, são explicados, muitas vezes até com exemplos. Cada um dos capítulos principais está dividido em subcapítulos de poucas páginas, o que facilita também a leitura e a organização da informação.

Sublinhados:

«Mas como a vida social precisa de valores comuns para se poderem regular as interacções sociais com um mínimo de eficácia funcional, a relativização dos valores intangíveis acabou por fazer emergir como “âncora” socialmente reconhecida o único valor cuja tangibilidade permite estabelecer facilmente comparações e hierarquizações: a riqueza material.»

«Sendo a acumulação e ostentação de riqueza o valor dominante do reconhecimento social, quem lhe tentar interpor outros valores nas suas preferências pessoais acaba por ter resultados inferiores naquela acumulação. E será facilmente afastado dos processos de decisão, em favor de decisores menos escrupulosos e mais dispostos a subalternizar os valores intangíveis.»

«De facto, foi, confiantes na arrogante crença de que a apreensão da complexidade relacional da vida social, por sofisticadas fórmulas matemáticas, seria apenas uma questão de capacidade de processamento informático, que muitas instituições financeiras deixaram a gestão dos seus riscos à última moda dos modelos matemáticos, em detrimento do pouco científico, mas razoável, juízo humano, apoiado na humildade, no bom senso e na dúvida metódica. Com o resultado que ficou à vista.»

«Só que a preferência dada à equidade tende a embotar a eficiência, pois que a sua acção se destina a contrariar os estímulos que levam ao empreendedorismo, à assunção de riscos e à criatividade. Pelo que a prolongada persistência na prioridade dada a tais critérios, muitas vezes ditada por fundamentos populistas, pode acabar por, sacrificando a dimensão do bolo a distribuir, conduzir a um empobrecimento relativo de toda a sociedade.»

«A resolução da presente crise implica, antes do mais, o esvaziamento da bolha financeira. O que, por sua vez, implica a destruição da riqueza artificialmente criada, mas que, tendo sido percebida como real, fundamentou um padrão de consumo e de investimento. Padrão esse que agora terá de ser também ajustado para níveis assentes em valores de riqueza e rendimento sustentáveis.»

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Empresas mais verdes ganham pontos na mente dos consumidores



Recentemente, a Cohn & Wolfe, uma agência de comunicação, realizou um estudo intitulado “Green Brands 2011”, que tinha como principal objectivo analisar a percepção que os consumidores têm dos produtos considerados verdes e, sobretudo, das marcas que os produzem. O estudo já teve edições em anos anteriores, mas este ano foi mais abrangente, contando com 9000 entrevistas a pessoas em 8 países (Alemanha, França, China, Índia, EUA, Reino Unido, Austrália, Brasil).
Os resultados foram ao encontro daquilo que é já uma realidade conhecida: os consumidores estão cada vez mais sensíveis às questões ambientais e transportam essa preocupação para os seus hábitos de consumo.
Face aos anos anteriores, este estudo foi o que obteve melhores resultados e maiores taxas de crescimento no que toca à afirmação de preocupações ambientais por parte dos consumidores, e também foi notório o crescimento destas preocupações nos países em desenvolvimento, o que deve ser encarado também como um sinal extremamente positivo.
Fazendo apenas um resumo dos principais aspectos evidenciados na análise do estudo, os consumidores afirmam, no geral, que as sua preocupações com o ambiente são grandes e que um consumo mais verde é importante, sendo animadores os dados que mostram que, em muitos dos países em análise, os consumidores mostram-se dispostos a pagar mais por um produto verde. Estes números são ainda mais expressivos nos países considerados em desenvolvimento, como Brasil, Índia e China, em que a percentagem de consumidores dispostos a pagar mais por um produto verde (“green price premium”) atinge números de 77%, 91% e 95% respectivamente.
Conjuntamente com este dado, grande parte dos consumidores afirma pretender aumentar o seu gasto em produtos verdes no próximo ano, rubrica esta que atinge, em média, os 39,75%. Este valor é também mais notório nos países em desenvolvimento, em que atingem os 65% na China, os 56% no Brasil e os 64% na Índia. Os países em desenvolvimento mostram assim uma grande vontade de abraçar os produtos verdes, vontade já menos expressiva nos países desenvolvidos. Isto pode dever-se ao facto de, nos países mais desenvolvidos, já haver há bastante mais tempo a preocupação pelos produtos verdes e uma maior consciência ambiental, pelo que é normal que estes valores sejam menos expressivos, ao invés dos países em desenvolvimento, onde ainda surgem quase como novidade.
Outro dos aspectos que saltou à vista dos analistas nos resultados deste inquérito foi a importância atribuída ao packaging dos produtos verdes. A embalagem é, para qualquer produto, uma parte importante na estratégia de marketing, sendo neste caso a principal vertente, também devido a outro factor importante, atribuída à compra destes produtos – a certificação. Esta certificação aparece quase sempre patente nas embalagens, satisfazendo a preocupação por saber se o produto é ou não realmente verde e dando ainda mais alento à construção da embalagem do produto. Em 5 dos países analisados, o packaging foi mesmo a dimensão que os consumidores afirmaram que mais os tornava propensos ou não a comprar um dado produto verde, seguido da publicidade e dos anúncios de televisão, evidenciando também a importância e a quantidade crescente da promoção destes produtos.
É de relevar ainda que os consumidores em questão afirmaram que a maior parte dos produtos verdes que adquirem são ainda essencialmente produtos alimentares, de cuidado pessoal e para usos domésticos, ou seja, produtos de uso maioritariamente privado. Com o crescimento da popularidade e da reputação deste tipo de produtos, é de esperar que os consumidores estendam este tipo de consumo para outras dimensões do seu dia-a-dia, passando a consumir – e, quem sabe, até ostentar – produtos verdes fora de casa.
É no seguimento desta tendência mais consumista, associada a uma maior preocupação ambiental, que o segmento das tecnologias e dos automóveis aparece com grande potencial para este tipo de produtos. No caso do estudo, em quatro dos países analisados, os seus habitantes elegeram o sector automóvel como aquele em que iriam começar a apostar em mais produtos ecológicos, e outros quatro no sector das tecnologias.
Para finalizar, o maior obstáculo aos produtos verdes é ainda, para 5 dos países analisados, o preço elevado destes produtos, o que, mesmo apesar da maior disponibilidade dos consumidores para optar por produtos ecológicos com preços mais elevados, constitui um grande entrave para a sua expansão, sobretudo em contexto de crise, como é aquele em que vivemos agora. Nos outros três países (Brasil, China e Índia), os consumidores encontram como principal problema a pouca variedade deste tipo de artigos ainda existente à sua disposição.
É verdade que estes dados são apenas estatísticas, mas, mesmo assim, e com todo o enviesamento que pode acontecer neste tipo de recolhas, é um dado adquirido para as empresas mundiais que os consumidores estão cada vez mais preocupados com as questões ambientais e que passam essa preocupação para os seus hábitos de consumo. Desta forma, as empresas estão no futuro quase obrigadas a abraçarem o movimento verde, para ir ao encontro das necessidades e dos desejos dos potenciais clientes, mas também pelas obrigações éticas e morais que toda esta questão traz consigo.

Fica ainda a lista das marcas consideradas mais verdes em cada um dos países em análise:
• Austrália – Subway
• Brasil – Natura Cosméticos
• China – Haier
• França – Yves Rocher
• Alemanha – Alnatura
• Índia – Amul
• Reino Unido – The Body Shop
• E.U.A. – Seventh Generation

Os resultados do estudo e a apresentação das conclusões podem ser encontrados na íntegra aqui.

Fontes utilizadas:
Cohn & Wolfe – Site Oficial
Marketeer – Site Oficial

sábado, 9 de julho de 2011

As marcas da nossa vida (11) - Fnac


Corria o ano de 1954 quando surgiu a primeira loja FNAC (Federation Nationale d'Achats des Cadres) em Paris, mais precisamente na Rue de Sebastopol.
O conceito foi criado por dois amigos, André Essel e Max Théret, e, inicialmente, a FNAC actuava exclusivamente como um clube de compras, onde apenas os associados podiam beneficiar das vantagens oferecidas pela marca. Os artigos, numa primeira fase maioritariamente artigos fotográficos, eram comercializados com descontos apelativos exclusivamente através da revista Contact, que era enviada aos sócios do clube. O ponto essencial do novo conceito era precisamente o desconto de que os sócios podiam beneficiar, uma vez que os fundadores da marca prescindiram de uma parte considerável do markup do retalhista para poderem oferecer preços mais baixos, e assim aumentar o poder de compra da classe trabalhadora francesa, preocupação esta que apareceu devido ao posicionamento político dos dois fundadores, que apoiavam algumas ideias socialistas.
Assim, a FNAC oferecia produtos de qualidade, mas tornava-os disponíveis a todos, não apenas às elites, posicionando-se imediatamente como uma empresa centrada na defesa do consumidor.
A FNAC introduziu também muitas outras novidades na sua época a pensar nos seus consumidores, que se revelaram apostas ganhas e lhe conferiram grande sucesso inicial. Os funcionários recebiam treino acerca dos produtos que vendiam para poderem informar sempre da melhor maneira possível os clientes, os produtos vinham com garantia de um ano e, para além disso, todos os produtos comercializados eram testados para avaliar se tinham valor para poderem fazer parte do portfolio da marca.
No ano de 1957, e após o grande sucesso inicial, a FNAC passou também a comercializar televisores, rádios, equipamento hi-fi e álbuns musicais.
O modelo de negócio feito inteiramente através da revista Contact persistiu até ao ano de 1966, em que abriu a sua loja a todos os clientes. O sucesso foi imediato e, pouco tempo depois, abriu a sua segunda loja, também em Paris, e, num espaço de três anos, contava já com quase 600 colaboradores.
O início da década de 70 trouxe mais lojas FNAC, agora espalhadas por toda a França, e também uma terceira loja em Paris, dedicada exclusivamente ao comércio de livros, uma nova área de negócio para a marca. A pressão do crescimento levou os dois fundadores da marca a abrirem-se a capital externo, e venderam assim 40% da companhia à Union des Assurances, uma seguradora.
A entrada no comércio dos livros foi feita através dos princípios já conhecidos da marca, oferecendo preços muitíssimo mais baixos que a concorrência, o que até levou à publicação de uma lei, conhecida como a lei “anti-fnac”, que limitava os descontos a 5%. Mesmo assim, a FNAC assumiu facilmente a posição de liderança no mercado livreiro francês.
Em 1977, com a continuação da demanda por um maior crescimento da marca, os dois fundadores venderam as suas participações na empresa à Société Génerale des Cooperatives de Consommation, uma sociedade de retalho com grande presença em França. Ainda assim, André Essel manteve-se à frente dos destinos da marca até 1983.
O início da década de 80 foi também marcante para a FNAC, com a entrada no índice bolsista de Paris em 1980, mas também pelo início da sua expansão internacional, com a abertura da primeira loja na Bélgica, corria o ano de 1981.
No final da década de 80, e início dos aos 90, a FNAC, já após algumas mudanças de vulto na estrutura accionista, começou a enfrentar a concorrência de outras empresas na área, como a Virgin, respondendo com mais investimento, criando a sua própria megastore em Paris, que se tornou um local de culto para muitos turistas da capital francesa, e lançando-se também ao mercado alemão, com a abertura da loja em Berlim, em 1991. Esta loja revelou-se uma má aposta por parte da marca, acabando a FNAC por se retirar do mercado germânico em 1995. Inversamente, a aposta internacional corria bem em outros países da Europa, como a Bélgica, onde foram abertas mais lojas, mas também com a chegada a Espanha, mais concretamente a Madrid, em 1993.
A FNAC continuou a mudar de mãos até que, em 1994, foi comprada pelos seus actuais donos, o grupo PPR (Pinault-Printemps-Redoute).
A chegada da marca a Portugal deu-se em 1998 e revolucionou o mercado dos seus produtos em Portugal, atingindo grandes níveis de aceitação, tornando Portugal numa das filiais estrangeiras mais rentáveis do grupo (3ª, responsável por 7% da receita da FNAC, apenas atrás de Espanha e França).
Actualmente, a marca está presente em 8 países, conta com cerca de 150 lojas e emprega cerca de 14000 pessoas.

Fontes utilizadas:
Fnac.pt e Fnac.com- Sites Oficiais
Funding Universe
PPR Group - Site Oficial