segunda-feira, 16 de julho de 2012

Leituras (9) - Gerrir, de Paulo Morgado




O conceito deste livro, preparado por Paulo Morgado, foge um pouco ao que é considerado o usual nos livros de gestão. Aqui não lemos acerca da história de sucesso de uma dada empresa ou empresário, não lemos sobre os benefícios que uma qualquer medida de política económica poderia trazer para o país. Em Gerrir (Lisboa; Tema Central; 2012) lemos sobre o processo criativo dos entrevistados, que são nada mais nada menos que 11 das mais importantes figuras do humor nacional. A princípio pode parecer que o humor e o sector empresarial são mundos completamente distintos, mas a verdade é que este livro é uma prova da universalidade da gestão. Mostra-nos que até com humoristas podemos aprender algo e transferir esses conhecimentos para as empresas, esperando assim algum resultado. Na verdade, este livro é muito mais um manual acerca do humor nacional, mas de onde é esperado que um gestor tire as suas ilações empresariais. A primeira parte do Gerrir é exactamente uma introdução à história e aos desenvolvimentos do humor português. Aqui são-nos mostrados quais foram os saltos desta indústria nos últimos anos, as personagens decisivas e em alta em cada um desses períodos e também a herança de cada uma dessas eras para o panorama actual do humor português. Posteriormente, temos as entrevistas com os 11 “humoristas” – Nuno Artur Silva, Herman José, Luís Afonso, Luís Pedro Nunes, Nuno Markl, Nilton, Ricardo Araújo Pereira, Fernando Alvim, Nuno Costa Santos, Jel e Bruno Nogueira. Em cada uma das entrevistas estas personalidades descrevem o seu processo criativo enquanto humoristas, quais as maiores dificuldades, como se organizam, onde se inspiram, entre vários outros aspectos. É precisamente destas entrevistas que os gestores podem tirar algumas lições. O processo criativo e as fontes de inspiração, as análises custo-benefício que o humorista faz acerca de cada piada ou actuação, ou ainda a obrigatoriedade de arriscar no momento decisivo são tudo pequenos grandes passos na construção do humor e dos quais o gestor pode tirar relevantes lições para melhorar também o seu processo de decisão e de gestão. No final do livro aparece a parte efectivamente relacionada com a gestão. Paulo Morgado elabora uma lista de 12 verbos (perspectivar, ritualizar, capacitar, ensinar, retoricar, arriscar, simbolizar, vincar, fazer, analisar, intuir e emancipar), descrevendo a importância destes, mais propriamente das acções em si implícitas, para o processo produtivo de um gestor. Em cada um dos verbos é feito também o paralelismo com os relatos dos entrevistados, e onde nas suas histórias podemos ver estes verbos presentes. Por tudo isto, Gerrir é um livro interessante, bem humorado e onde podemos ver os relatos de muitos dos humoristas que são actualmente as “estrelas” da sua indústria. Tê-los em discurso directo a relatar-nos o seu processo criativo é engraçado e inspirador. Por este carácter bem humorado e descontraído, Gerrir requer também uma abordagem não a um livro de gestão, mas sim a um relato do humor de onde se podem tirar lições empresariais. 


Sublinhados:

 “(...)um dos elementos cruciais para a criação do cómico é o ângulo inovador, surpreendente, irreverente, oportuno... com que olhamos para a realidade que nos envolve.”
  
Paulo Morgado, sobre o verbo “Perspectivar”

 “Que se desengane aquele que pensa que o acto da criação não está sujeito a certas rotinas implacáveis! A inovação só é frutífera se as novas células se replicarem ordenadamente dentro de um tecido, com uma identidade única, que as protege. A inovação desordenada, caótica, é, normalmente, o prenúncio da morte de um organismo ou de parte dele – tal como acontecerá nas empresas.”

Paulo Morgado, sobre o verbo “Ritualizar”

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