quarta-feira, 13 de julho de 2011

Leituras (5) - Economia, Moral e Política, de Vítor Bento



No seguimento da colecção de estudos acerca da realidade portuguesa organizados pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, foi publicado este ano o livro “Economia, Moral e Política”, da autoria de Vítor Bento, economista e mestre em Filosofia.
O autor faz uma análise e uma explicação dos ciclos económicos, mas não apenas de um ponto de vista teórico, fazendo também uma introdução à acção política e à moralidade dos intervenientes na economia mundial, relacionando assim as três variáveis, culminando numa obra que retrata bem os problemas actuais da economia e que dá uma outra visão bastante importante para a sua compreensão, analisando em que medida estes mesmos problemas são ou não criados pela mudança nos padrões morais da sociedade.
O livro está dividido em quatro capítulos. Um primeiro, intitulado “Economia e Moral”, onde começa a ser feita a relação entre as três variáveis presentes no título, análise introdutória que é terminada no segundo capítulo, “Economia, Ciência e Política”. O terceiro capítulo, “Financiamento e Eficiência Económica”, apresenta-nos o sistema financeiro mundial, elucidando-nos acerca de algumas das suas regras e produtos, mas também, e principalmente, quais os seus problemas e perigos. No final do livro, juntam-se os três capítulos anteriores numa análise à actual crise mundial, onde o autor nos deixa a ideia de que a actual crise é não só económica e financeira, mas também moral e que as sociedades foram empobrecendo os seus valores morais, deixando a porta aberta para que este tipo de situações (crises) se suceda.
Nesta última parte, a Economia, a Moral e a Política são verdadeiramente integradas e colocadas sobre a actual crise, mostrando como tudo se começou a desenrolar e ainda não terminou. Vítor Bento aponta a ganância, a valorização da riqueza material acima de tudo, a pressão constante por melhores resultados contabilísticos e sobretudo a perda de valores morais e de ética por parte de grande parte da população, em especial dos dirigentes das empresas, como uma das pedras basilares desta crise.
A verdade é infelizmente essa e somos confrontados com ela todos os dias, sucedendo-se os casos de corrupção e de outros crimes, tudo em prol muitas vezes do resultado a curto prazo que fique bem nos relatórios e contas, sacrificando muitas vezes a sustentabilidade da empresa e/ou das próprias nações.
Toda essa análise alastra-se também, quando necessário, à actuação dos Estados, onde também reinam os problemas acima referidos, acrescendo o endividamento, as más políticas, entre outros, que colocam em risco a sustentabilidade de países inteiros.
Este livro está escrito de uma maneira bastante compreensível e fácil de ler, onde os termos demasiado específicos não abundam, e, mesmo quando presentes, são explicados, muitas vezes até com exemplos. Cada um dos capítulos principais está dividido em subcapítulos de poucas páginas, o que facilita também a leitura e a organização da informação.

Sublinhados:

«Mas como a vida social precisa de valores comuns para se poderem regular as interacções sociais com um mínimo de eficácia funcional, a relativização dos valores intangíveis acabou por fazer emergir como “âncora” socialmente reconhecida o único valor cuja tangibilidade permite estabelecer facilmente comparações e hierarquizações: a riqueza material.»

«Sendo a acumulação e ostentação de riqueza o valor dominante do reconhecimento social, quem lhe tentar interpor outros valores nas suas preferências pessoais acaba por ter resultados inferiores naquela acumulação. E será facilmente afastado dos processos de decisão, em favor de decisores menos escrupulosos e mais dispostos a subalternizar os valores intangíveis.»

«De facto, foi, confiantes na arrogante crença de que a apreensão da complexidade relacional da vida social, por sofisticadas fórmulas matemáticas, seria apenas uma questão de capacidade de processamento informático, que muitas instituições financeiras deixaram a gestão dos seus riscos à última moda dos modelos matemáticos, em detrimento do pouco científico, mas razoável, juízo humano, apoiado na humildade, no bom senso e na dúvida metódica. Com o resultado que ficou à vista.»

«Só que a preferência dada à equidade tende a embotar a eficiência, pois que a sua acção se destina a contrariar os estímulos que levam ao empreendedorismo, à assunção de riscos e à criatividade. Pelo que a prolongada persistência na prioridade dada a tais critérios, muitas vezes ditada por fundamentos populistas, pode acabar por, sacrificando a dimensão do bolo a distribuir, conduzir a um empobrecimento relativo de toda a sociedade.»

«A resolução da presente crise implica, antes do mais, o esvaziamento da bolha financeira. O que, por sua vez, implica a destruição da riqueza artificialmente criada, mas que, tendo sido percebida como real, fundamentou um padrão de consumo e de investimento. Padrão esse que agora terá de ser também ajustado para níveis assentes em valores de riqueza e rendimento sustentáveis.»

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